Nessa mesma hora, há exatamente um ano, eu terminava de arrumar as minhas coisas, uma malinha azul de lona com roupas suficientes para duas noites fora de casa. O convite para passar a virada de ano na ilha tinha sido feito há uma semana e aceito há uns 4 ou 5 dias, após eu convencer minha mãe da certeza de que o cara que eu conhecia há um mês pela internet não era um psicopata.
O ônibus já estava mais de meia hora atrasado, substituindo minha usual ansiedade por um nervosismo daqueles de que dão vontade de se atirar no chão e arrancar cabelos e unhas. Fui no guichê da empresa e tocaram minha passagem por um ônibus que era para ter passado ali há quase duas horas, mas que estava chegando dentro de poucos minutos. E lá fui eu, já com os batimentos contidos, coração dentro do peito.
A euforia voltou uma hora e meia depois, quando atravessei a ponte Pedro Ivo Campos e vi a Hercílio Luz, linda e iluminada daquele jeito que sempre emociona quem entra na ilha. No táxi da rodoviária até casa do rapaz que iria me hospedar naquela noite, e também na próxima, deu tempo de levar um pito do motorista pelo trajeto curto que eu estava o obrigando a fazer. Mas na porta do prédio, com a malinha azul pendurada no braço direito, o coração ameaçou sair correndo outra vez: finalmente vi ele.
Eu já tinha avisado que era um pouco tímida, mas queria me esforçar pra pelo menos parecer agradável. Do abraço forte dado ainda na portaria até a chegada do elevador ao 10º andar, já tinha dado tempo pra eu perceber que aquele homem sorridente do meu lado era a coisa mais incrível que tinha acontecido comigo naquele ano que estava em seus momentos finais.
No apartamento minúsculo, ele serviu cervejas bonitas em dois copos. Tinham sido compradas especialmente para a ocasião e talvez tenham sido indispensáveis para as nossas bocas se tocarem pela primeira vez, já no dia 31, de acordo com o relógio. Depois do beijo, o plano de sair para a noite florianopolitana, acertado há dias, foi deixado de lado. Preferimos usar a noite para começar uma paixão que em algumas horas completa um ano.
A continuação da história está espalhada logo ali naquele arquivo, entre janeiro e dezembro de 2011.
É curioso que quanto melhor é o meu ano, menos intenção eu tenho de pedir que o próximo me traga coisas boas. Eu só queria que 2012 fosse tão cheio de frios na barriga, de novidades, de amor, de aprendizado e de sorrisos ao acordar quanto foi 2011. Não deve ser assim tão difícil.