segunda-feira, 31 de março de 2014

o mês

Um livro: El Tunel, Ernesto Sábato
Um filme: Inside Llewyn Davis
Outro: O Quarto de Leo
Uma lancheria: a do Parque
Um bar: La Estación

sexta-feira, 28 de março de 2014

não dei

Eu tentei. Não era pra mim.
Em 2005 o baixo Tagima do meu novo melhor amigo passou uma temporada lá em casa, com amplificador e tudo. Não sei ao certo por que ele teve a ideia absurda de deixá-lo comigo, acho que foi na época de sua transição para a guitarra, então rolava um certo desapego. Outro amigo já tinha me ensinado a fazer os primeiros acordes de "Come as You Are", então durante aquelas duas semanas em que o instrumento ficou lá em casa, toquei repetidas vezes apenas aquilo. Foi tudo o que consegui aprender, mas não desisti.
No Natal do mesmo ano, sabendo que meus pais obviamente não me dariam um baixo, pedi um violão. E ganhei. Um Michael preto com cordas de aço, nunca havia me sentido tão feliz com um presente. Talvez três anos antes, quando ganhei um hamster. Enfim. Então 2006 seria um ano de grande aprendizado, pensei. Aprenderia a tocar violão e então migraria para o baixo, entraria em uma banda e viraria uma rock star.
Comecei em casa com um material velho do curso de guitarra do meu namorado e tive uma evolução pífia. Então parti para as aulas gratuitas que tinham começado no meu colégio. Lá aprendi a tocar coisas como "Esperando na Janela" e "Sorte Grande", de maneira triste e sofrível. Meus dedos simplesmente não obedeciam aos meus comandos e a única coisa que aquelas aulas estavam me proporcionando eram marcas doloridas que não compensavam tocar aquelas coisas horrorosas. Sugeri outras músicas ao professor, levei o CD do CPM 22, ele não entendeu nada. Depois levei o da Avril Lavigne, ele até que gostou, mas não chegou a me ensinar - e nem a devolver o CD. Ao fim de dois meses desisti daquela macaquice, mas não do violão.
Eu já tinha uma noção de como fazer os acordes, então por que não aprender sozinha as músicas que eu gostava? Entrei no cifraclub, imprimi uma penca de letras com cifras e, como já haveria de desconfiar, não consegui tocar nenhuma. Cansado de assistir meu sofrimento, o namorado roqueiro cool entrou em cena, pegou meu violão e disse:
- Vou te ensinar um jeito mais fácil.
Aí eu desisti de vez. Música não era pra mim. Tocar música não era pra mim. Eu ainda podia escrever sobre ela, afinal.
Há pouco mais de um mês, fazendo uma matéria sobre mulheres instrumentistas, minha colega fotógrafa descobriu meu sonho frustrado e desde então sugere constantemente que eu retome e tente outro instrumento. Tenho cara de baterista, ela disse esses dias.

terça-feira, 18 de março de 2014

sono otimista

Cheguei em casa mais cansada do que me recordo ter estado nos últimos meses, dormi por uma hora, em duas prestações porque começou a chover e tive que fechar as janelas, e sonhei que meu cartão do plano de saúde tinha chegado, que encontrei a banda que estava o dia todo tentando entrar em contato e que havia resolvido todas as minhas pendências do mês.
Minha vida só é produtiva enquanto durmo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

quarta-feira, 5 de março de 2014

carnaval, eu cobri

Quando enfiei na minha cabeça que seria repórter de cultura, e lá se vão quase dez anos, as razões eram tão óbvias que quando finalmente entrei na faculdade de jornalismo achei que teria outros 30 concorrentes querendo fazer exatamente o mesmo que eu. Chegando lá, para minha surpresa, havia mais uns dois ou três com o mesmo objetivo, mas sem metade da minha teimosia. Desistiram no meio do caminho. Eu fui até o final e cá estou.
Eu queria trabalhar com aquilo que eu gostava de fazer nas horas vagas, queria unir o útil ao que era essencial na minha vida. Pra mim sempre foi fascinante a ideia de estar perto e tornar públicas as coisas incríveis que músicos, escritores, cineastas, atores, artistas plásticos & demais agentes da cultura fazem. Pois bem.
No último sábado fui escalada para cobrir o desfile das escolas de samba de Florianópolis. Se tem algo que nunca imaginei fazer na vida era isso - e talvez o velório que cobri mês passado. Seriam quase dez horas seguidas de trabalho até o sol nascer, e apesar de eu nunca ter dado a mínima para o Carnaval e de saber que às 6h de domingo eu estaria só o bagaço, admito ter ficado animada com a ideia.
O jornal montou uma equipe para trabalhar no on-line em tempo real, com duas repórteres escrevendo e o restante passando informações via whatsapp em pontos estratégicos da passarela. Eu fiquei na dispersão e sinceramente não tinha parado para pensar no que poderia encontrar ali. Não consegui ver nada do desfile, fiquei de prontidão no portão esperando todo mundo sair da avenida e acho que o que vi ali era ainda mais interessante do que o desfile em si. Eu presenciei todo o tipo de reação de gente que ama aquilo ali e passou o ano todo trabalhando e ensaiando pra fazer o Carnaval acontecer e garantir uma boa nota para sua escola.
Chegava gente rindo, pulando, gritando, se abraçando, chorando de emoção, de tristeza. Chegava gente frustrada por causa de um carro alegórico quebrado, cheia de certezas sobre a vitória ou com poucas esperanças a respeito dela. Chegavam passistas com o pé machucado, sem sentir dor alguma porque no corpo só tinha lugar para a adrenalina,  e outras que saíam levadas de ambulância. Mas em todas aquelas pessoas era possível identificar um mesmo sentimento, o de dever cumprido. Exatamente o mesmo que experimentei quando entrevistei o último mestre-sala da última escola de samba e subi pela última vez até a sala de imprensa com o sol dando o ar da graça.